FUNERAL
lisieux
Enterra-me, amado
ao pé da serra
juntinho das hortênsias azuladas
sob o céu também azul do Rio Grande.
Cuida pra que eu fique descansando
na direção em que o vento for soprando,
a me levar os perfumes dos caminhos
e os barulhos do cotidiano...
Como o perfume do teu corpo
doce e fresco
e o da natureza à minha volta,
das videiras carregadas, temporãs...
E o som das águas,
mesmo que baixinho,
vindo lá das bandas do Guaíba
e que embala o nascimento das manhãs.
Cuida também para que sinta o toque
do vento frio que vem da campina
e a lambida morna, preguiçosa
do sol de inverno a furar neblina.
Cuida que eu fique plantada ali nos pagos
não me perder nos horizontes vagos,
reconhecendo as vozes das coxias.
Não faças com minh'alma a covardia
de ficar longe da querência amada,
pra sempre presa nos mineiros paços...
Pra que a alma tão saudosa não precise
de madrugada percorrer largos espaços...
e quando queira, ela só deslize
direto para o centro dos teus braços.
SBC-SP
21.08.07 - 20h49