PORTEIRA
Sonhei com a criança que fui
Se bem que tem horas em que penso
que nunca deixei de ser
Naquele tempo eu queria “crescer”
Viajar, conhecer
Sonhei que me balançava tão alto
E cantava
E gritava
E corria, e pulava!
Sonhei com as cabras balindo, o cachorro latindo
E o velho burro tão quieto, cabisbaixo
E os porcos
E o jardim de mamãe!
Sonhei com o moinho
Seu barulhinho
E o rio!
Sonhei com os tempos dourados
Com os frutos apreciados
E meus irmãos tão amados
Meus pais trabalhando
A nona ao seu modo ajudando
Sonhei com o mundo porteira adentro
E acordei com um peso no estômago
Era minha mão ali depositada
Querendo alcançar o que vivia dentro
daquela porteira fechada