Pais
Sabe, nunca gostei das atividades em família,
Sempre chatas e feitas logo cedo ao dia
Nem era por implicância da idade
Ou pela falta de entendimento de ambas as partes
Sempre foi pela fuga da cidade
Dando a eles uma folga de verdade
Dando a mim uma grande monotonia
Suas piadas fora de tempo sobre tudo
Me deixavam com mais raiva que sono
Parece que meu destino sempre foi
Passar o resto das minhas tardes
Sentado com meu pai, contando mentiras,
Ouvindo música velha, tomando chá de ervas
E quando eu falava ele por fim adormecia
Nunca dei ouvidos a minha mãe
Desde pequeno quando dizia “me acompanhe”
“não chegue tarde, escove os dentes e banhe”
Por fim, nada fazia como de costume
Odiava a grama, o cheiro do mato
as galinhas, as vacas, o pato
até o orvalho que parecia mais poético
nas descrições percorridas pelo verde sintético
mas, nada me tirava da cabeça
que qualquer outro momento que apareça
não fara com que eu esqueça
o quão bom era estarmos juntos a mesa
não sinto falta do silêncio,
não sinto falta da casa no campo
sinto falta dos sentimentos
de muitos eram tantos
a cada noite que se vai
oro sempre pelo meu pai
a saudade que me acompanha
é da falta de minha mãe pela manhã
tudo que queria era poder de novo
reclamar dos lugares, da comida,
fazê-los sentir vergonha meio ao povo
depois vê-los sorrir como se nada acontecia
sempre sentirei saudades
eternas, previas e passageiras,
ainda que há lembranças pela metade
há histórias pra vida inteira