Faz frio... aqui dentro
A casa é fria, úmida. Estou sempre limpando algo, lavando algo ou cozinhando algo. Ela gosta, a faz feliz.
O que a deixa aborrecida é que está sempre um caos, mesmo que limpo, desorganizado.
Na altura dos seus seis anos, e na raça de ter uma mãe que sente dores, ela colabora e tenta organizar...dobra roupas, mas em meia hora se entedia e me chama pra brincar, quase sempre eu largava tudo e ia, pois antes podia pagar alguém que me ajudasse com toda essa bagunça, mas hoje em dia, eu sempre recuso...e continuo a fazer as tarefas domésticas ( que não desempenho bem ).
Sou forte, bruta, boa nos trabalhos pesados...ou na cozinha, pois cozinhar me dá um prazer absurdo..., mas atualmente até esse prazer tem diminuído.
Antes eu fazia o trabalho pesado na ausência dela...e quando ela estava, nós brincávamos e ríamos muito.
Hoje a gente ri...vê desenho, faz lição, mas cada uma começa a focar mais nas obrigações.
Ela me vê limpando paredes e se orgulha, come qualquer coisa que eu prepare dizendo que está saboroso, ela quer mais espaço, mais amigos, mas não reclama, já tem maturidade para saber que faço o melhor que posso, e que a amo tanto...e que meu mundo é melhor por ela existir.
Mas,...quando ela não está...minha coragem se vai com ela, tudo é estranho, oco, vazio.
A rua tem um cheiro tão triste que olho de longe e volto para o meu canto.
Choro copiosamente, tudo em volta é desordem...bagunça...caos.
Ligo a TV, tomo café e sinto dor.
Desligo a TV, pego um livro...e não me concentro em nada.
A solidão às vezes é amiga, quando a gente escolhe e acolhe. Ela é produtiva...serena...reflexiva.
Porém, quando ela é sua única opção, você se acomoda nela, não por ser agradável, mas por que é tudo o que você pode ter.
Coloco as roupas no varal, faz frio...daqui a pouco vou lavar metade da louça, limpar o chão e colocar umas roupas de molho...banho demorado, lágrimas, escovar dentes e jogar mais uns analgésicos pra dentro..., mas já não servem pra nada.
Ela faz falta. Muita falta. E é muita responsabilidade pra ela, ser a razão do meu sorriso diário, que sem ela perto...inexiste.
Eu a deixo voar...(bem mais que minha mãe gostaria)...já viajou com pai, avós , acampou e teve festa do pijama. Já se aventurou em tirolesas, toboáguas e caçadas..., mas ela é meu mundo todo e me faz falta.
Eu sei que preciso dar um jeito nisso...por que ela vai voar ainda mais...e cada vez mais...e eu sempre vou permitir e incentivar...e preciso arranjar um jeito de ser feliz enquanto de longe a vejo voar.