Vetor inacabado

Que caminho é esse

Que meus pés desesperados

Percorrem

Trôpegos e circunflexos

Torcem e retorcem sobre o próprio tornozelo

Quanto de dor existe num tropeço

Na dúvida

Na angústia de hesitar

Quanta dor nessa solidão

Que me espreita

Nas palavras

Nos ecos que se respondem sozinhos

Nos passos da escada

Quanta fragilidade há num corrimão

No labirinto confuso do tempo

Do espaço, das cores que em flash

Fazem e desfazem imagens instantâneas

Esse álbum de retratos amarelo da memória

Quanta dor registrada.

Breve momento, é ilusão

O tempo e a vontade de ser amada.

O mar intangível

Ao mergulho suicida

Ao lançar-se do trampolim do navio

Condenado a imensidão e

A imersão

Silêncio, dentro de mim não há mais

Significados, alentos, murmuros.

Há total ausência

Há vácuo que aspira toda alma como se fosse pó

E essa alergia constante

Atenuante de sentidos,

Falseando reações

Enorme crepúsculo envolve minha pálpebra

É vermelho borrado,

É preto- azulado

Como as asas da borboleta que peguei

E, depois , libertei

Apreciei-lhe minuciosamente

Mas, não me pertence.

A metamorfose pertence à vida

E a vida é um bem maior

Que o ter, que o ser e

Que o estar,..

As vezes se tem vida, e se está morta

Sepultada sob as vestes, sob a máscara da face

As vezes se é vivo, , mas se está definitivamente morto

Morto, silenciado, desesperançado.

Contentando-se com o apenas possível, o ínfimo ,

A migalha de um suspiro roubado

Contenta-se em viver sem nenhuma dignidade

É como ser coisa, cousa ou nada.

Contenta-se em respirar, trocar gases,

Suar, fazer asseios burocráticos,

Ter afetos automáticos

Anseios projetados para amanhã de manhã

Em ponto.

E a vida é um ponto final

Sem graça.

Não há pecados a redimir,

Não há culpa a se expiar.

Não há glória a se decantar

Há um arroubo de silêncio

Uma bravata de vento

A descabelar-me

A turvar a visão

A sujar de lama o sapato

E passo torpe em direção

a qualquer lugar.

Há interlóquio secreto em ser e o nada

A disputar lugar no espaço

Que de tanto vasto e

Tão perdido

Cabe e descabe o firmamento

Cabe e descabe o infinito

No sortilégio do momento

A flor não é mais a flor

E nem pertence a primavera

O rio é veio de água doce

Banido do leito da montanha

Nem a flor é mais a flor,

E nem o rio é mais o rio

São dois, identidades distintas

Ímpares em um corpo mutante

Pares em corpo temporário

Morre a flor seguindo o rio

Morre o rio que deságua no mar

A flor é lembrança de primavera

O rio é libertação e entrega

E as montanhas,

São esculturas a cultuar o céu,

As estrelas

A certeza de ser e existir

De ter e estar.

Perdoa-me hoje

Pois não sou flor e nem rio

Não sou montanha e nem mar

Sou vetor inacabado

de minhas emoções.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/09/2007
Reeditado em 10/09/2007
Código do texto: T634332
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