Ao som da saudade

Hoje tenho ouvido a música de uma saudade que sempre me toca,

e todas as pessoas que sou se levantam solenes para ouvir.

Muitos olhos difusos percorrem novamente a rua de terra.

Uma charrete posta à beira do portão

anuncia a carreira de dois ou três netos pelo quintal.

Dali a pouco você aparece,

chinelos arrastando na terra, uma ajeitada de leve no lenço ,

e uma passada de mão no avental .

Carrega um punhado de laranjas nas mãos e se senta num descascar magistral

-eram minhas todas as ‘tampinhas'-.

Que abismo é a lembrança de nós todos nas cadeiras de tiras verdes,

as cascas pelo chão,

e um calor de desandar a rotina.

Hoje ninguém se senta mais à sombra do quintal ,

tampouco se ajusta às cadeiras de área.

Num retorno reticente,

todos os que me tornei ouvem atentos ao final da canção

que só silencia com a agulha bem longe do peito.

Talita Fernanda Sereia
Enviado por Talita Fernanda Sereia em 30/04/2018
Reeditado em 15/06/2018
Código do texto: T6323334
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