Ao som da saudade
Hoje tenho ouvido a música de uma saudade que sempre me toca,
e todas as pessoas que sou se levantam solenes para ouvir.
Muitos olhos difusos percorrem novamente a rua de terra.
Uma charrete posta à beira do portão
anuncia a carreira de dois ou três netos pelo quintal.
Dali a pouco você aparece,
chinelos arrastando na terra, uma ajeitada de leve no lenço ,
e uma passada de mão no avental .
Carrega um punhado de laranjas nas mãos e se senta num descascar magistral
-eram minhas todas as ‘tampinhas'-.
Que abismo é a lembrança de nós todos nas cadeiras de tiras verdes,
as cascas pelo chão,
e um calor de desandar a rotina.
Hoje ninguém se senta mais à sombra do quintal ,
tampouco se ajusta às cadeiras de área.
Num retorno reticente,
todos os que me tornei ouvem atentos ao final da canção
que só silencia com a agulha bem longe do peito.