ETERNA MUSA
Ao longe o trovão no mar bramia!
O arvoredo se envergava à ventania
tal como o bardo se vergava à solidão!
O mar revolto em tristeza se espraiava,
e a saudade- da paixão fiel escrava -
no peito ardia destroçando o coração!
E entre a dor, entre a saudade e a lembrança
Minh!alma inteira se apega na esperança,
de que me ouças neste céu sem dimensão!
Solta, pois, as amarras da distância,
sintoniza teu amor na minha ânsia,
e vem de encontro à minha negra vibração!
Ah! Musa eterna, compadeça dos meus ais!
Ouve agora meus gemidos tão reais,
que saem da alma numa prece de socorro!
Ah! tu não vens, não me mostras teus encantos,
e de dores, de amarguras entre prantos,
eu desfaleço, e de saudades quase morro!
Se não te sinto mais alma corpórea,
se a tua face se me estampa em cor marmórea,
ainda me resta o saber da eternidade!
Na mente eu te percebo lado a lado,
e por isso é que assim alucinado,
eu inda espero a imortal felicidade!
Escuta, pois, doce musa, meus clamores!
O perfume que invejava a tantas flores
não mais exala do teu corpo nacarino!
Ah! por teus lábios e teus beijos inda eu gemo!
E em pensamentos à deriva chego ao extremo
de te buscar na imensidão em desatino!
Ao bardo já não basta a lira triste,
que se repete nesta estrofe que persiste:
Onde habitas neste céu ó minha estrela!
Quero achá-la no infinito que ignoro
para dizer que é a ti que eu tanto adoro
e dar a vida num minuto para vê-la!
Volta de onde estiveres. Sê clemente!
Vem sentir este amor que inda é presente,
e que minh!alma em desesperos entrelaça!
Volta outra vez ao flamboyant amigo,
vem deitar à sua sombra o amor antigo
e me dizer o que sem ti, queres que eu faça!
23.10.2005