Mãe.

Um sono suave

Pode ser até

Que algum sonho tenha havido

Mas aquela doce vida

Era tão boa

Que a gente nem pensava

Em perder tempo à toa, sonhando

Lá em casa

A gente até quase ria, de vez em quando

Uma voz mais grave

Invariavelmente

Nenhum de nós tinha feito nada

Nas asas do tempo

Um avião de papel ... um brinquedo

Uma luz acesa lá fora

Pode ser que fosse a Lua

Eu não sei quem foi que guardou

As chaves do lugar

Onde se põe para sempre

A lembrança sem par

Do som dos teus passos no portão

Que hora bonita tinha o dia

Silhueta distante

Um vulto no final daquela rua

Uma festa calada

Era muda a alegria, mas era

Essa vida que voa nas asas do tempo

Quando menos se espera

O suave, a voz grave, a alegria

os teus passos.

Até mesmo a própria Lua, tão brilhante

Ainda brilha

Porém hoje brilha menos

Brilha bem menos

Que no tempo bonito e distante

Ninguém sequer o desenhou

Mas tudo isso vai pra sempre estar escrito

Aqui e ali

Nos pedaços mais simples

da vida da gente

Eternamente

Nos espaços vazios do telhado

Que chovia

No traço da luz da Lua

Que fugia do Céu

E invadia o quarto na escuridão

Na ilusão das asas

de um pequeno avião de papel.

Edson Ricardo Paiva.