Navegantes
Alguns vêem a vida
Como um rio perene que passa
Subindo e descendo em sua ida
A desaguar num oceano de graça
Mas não sejais de todo corajosos
Valentes desbravadores dos mares
Pois os ventos que são agora afetuosos
Transformar-se-ão, amiúde, em tempestades
Certo estarem de alma alegre
Quem nele navega sente
A arfagem de uma brisa leve
Ou o desejo de um coração quente
Mas nesse mar de dissabores
Onde impiedosas vagas rugem
Quem neles vai a seus labores
Contínuas dores no coração surgem
Quer sejam águas serenas,
Ou famintas procelas a cruzar
A tornar as vidas tão pequenas
E ao sabor do incerto as levar
Que faz ansiar pela companhia amada
Para mitigar a secura do sofrer
Fazendo lembrar doçura inspirada
Achada num beijo de bem querer
A consolar o banzo terrível
Que rói lúdica lembrança
Um doce lembrar, aprazível
Deixar o amor como aliança
E esta insana separação
Que crava profunda estaca no peito
Devora ingênua e branda paixão
Nascida entre braços no leito
E o lábio itinerante
Que ainda perdura em dizer,
Um dia há de voltar suspirante
Pois não esquece de você
E assim, esses aventureiros navegantes
Que miram adiante a doce ilusão
De ver no porto destino, deixado antes,
Um amor, depois de longa solidão.