Navegantes

Alguns vêem a vida

Como um rio perene que passa

Subindo e descendo em sua ida

A desaguar num oceano de graça

Mas não sejais de todo corajosos

Valentes desbravadores dos mares

Pois os ventos que são agora afetuosos

Transformar-se-ão, amiúde, em tempestades

Certo estarem de alma alegre

Quem nele navega sente

A arfagem de uma brisa leve

Ou o desejo de um coração quente

Mas nesse mar de dissabores

Onde impiedosas vagas rugem

Quem neles vai a seus labores

Contínuas dores no coração surgem

Quer sejam águas serenas,

Ou famintas procelas a cruzar

A tornar as vidas tão pequenas

E ao sabor do incerto as levar

Que faz ansiar pela companhia amada

Para mitigar a secura do sofrer

Fazendo lembrar doçura inspirada

Achada num beijo de bem querer

A consolar o banzo terrível

Que rói lúdica lembrança

Um doce lembrar, aprazível

Deixar o amor como aliança

E esta insana separação

Que crava profunda estaca no peito

Devora ingênua e branda paixão

Nascida entre braços no leito

E o lábio itinerante

Que ainda perdura em dizer,

Um dia há de voltar suspirante

Pois não esquece de você

E assim, esses aventureiros navegantes

Que miram adiante a doce ilusão

De ver no porto destino, deixado antes,

Um amor, depois de longa solidão.

Quinho Barreto
Enviado por Quinho Barreto em 19/03/2018
Código do texto: T6284027
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