O último soldado
O que eu quero
Não tenho
O que tenho
Não quis
Mas vida me dá
Aceito e sigo em frente
Carrego flores nas mãos
Fotografias de uma vida
Atiro velas ao ar
Deixo a tristeza flutuar
Deixam-se levar pelo vento
Pelos olhares entreabertos de quem está em baixo
Enquanto caem mais lágrimas
Em pleno dia de vitória
Lembram-se dos dias de glória
Terminados em assassinatos
Mas ninguém sente na pele
Os desgastes, os maus-tratos
Dessa guerra vivida, em busca de paz
Ainda escorre no meu corpo
Sangue frio e alheio
Vitória de quê
Se meus amigos já se foram?
Meu amor morreu
Na sequência dos tiros
Das explosões, dos bombardeios
Sem hora marcada
Vitória de quê
Se tudo o que me resta
É uma barriga grande
Que não reserva comida
Porém acumula mares de aflições
Toda vez que me concentro
Para não chorar?
O que a vida me dá
Só são mortes e enterros
Almas consternadas
Fazendo mover viaturas fúnebres
Perdemos tudo no final
Penso em também me ir embora
E penso nisso com afinco
Só não sei se vale a pena
Não sei se ainda fico...