Velha infância
O badalar do ponteiro é insistente
Repete seu ciclo diário sem cessar
Esperneia: “Vivas o presente!
Pois o passado não posso lhe dar.”
Porém, aceitar vosso pedido
É como admitir a falência
De um amigo querido
Que hoje choro por sua ausência.
Recordo-me de nos sujarmos na lama do campinho molhado
Após vencermos aquela partida memorável
O resultado era sempre o mesmo joelho ralado
E nossas roupas em estado deplorável.
Apesar de nossas desavenças
Éramos uma dupla imbatível
Mas, eram justamente essas diferenças
Que o tornava insubstituível.
No entanto, caro amigo, dentre tantas partidas
Apenas uma não conseguimos vencer:
A passagem do tempo e ocasiões ressentidas
Mostrando-nos que de fato, o passado deve-se esvaecer.
Por mais que insista
Apenas eu posso colocar um ponto final
Nesta visão tola e idealista
Que criei de um futuro ideal.
Um dia, demos vida a grandes heróis e guerreiros
Um dia, despertamos reinos adormecidos...
Um dia, fomos fieis parceiros
Agora, apenas meros conhecidos.