Voa peteca, a tarde espera
Mãos ao alto
Prepara o golpe
A lança
O barulho da palma
A direção e a sorte, de fazer um ponto
No quintal de casa, alguns anos
Quando eu jogava, com quem quisesse jogar
A peteca ao alto,
O varal como uma rede
Regras, se adaptando,
Um campo, maior que o outro
Sobressaltos, sede,
Clandestino, sub-emprego, atletas olímpicos, ou apenas toscos,
A emoção, o suor no corpo
Enxugando os olhos de novo
Quando a plateia.. tinha quatro patas, e apenas quatro patas
Um olhar doce
E um faro invencível
Pinga a gota no grão-oceano do tempo
E um passado volta todo, inesquecível
E as suas lembranças, foi o que sobraram
Varando o resto da tarde
Pedindo pra noite esperar um pouco
Na secura de um sol perdoável de outono
A peteca não podia cair no chão
Não queríamos que caísse
Apenas no chão do outro
Era um sonho, quando apenas alegria
Mesmo as discussões e os deslizes
Mesmo a minha ousadia, de dar pontos de graça sem querer
Era um sonho, quando a vida apenas alegria
Aquele momento, aquela partida
Não queríamos que caísse
O ápice daquelas tardes
A peteca, ode aos índios, meio astecas, meio meninos
Jogando pro alto, a palma acerta
Mesmo na dor das mãos, no quintal de uma casa singela, na humildade de nossa pobreza
Fazíamos voto, na riqueza
De uma tarde folgada, num simples jogo de peteca
Meu pai e eu, geralmente
A dupla mais comum,
Enquanto a vida aperta,
Não pode deixa-la cair
E de repente,
Caíamos no silêncio das tardes, enquanto o rompíamos
No sol batente, um simples jogo, mais uma peça
E nós, como maníacos, loucos, correndo atrás dela
Aos suores roucos
A única torcida, tinha os olhos apenas para o meu pai
Sobrava-me, a mim mesmo, o meu rabo atrás, abanando..
Era um simples jogo de peteca
Mas que jogo!!
Que festa!!
Que infesta a mente de saudades
Que empresta à mente aquela idade
Voltam os tempos, mas eles nunca voltam
Assim como as petecas, com as mãos jogam
Como aquela partida, a vida não tem tira-teima,
Menos aquela tarde.. de uns anos antes
Justa aquela nossa alegria, de saudosa época
Em que se ria, por uma simples peteca
Nos mostrava, que o mais simples é o mais importante