CONFESSO QUE BEBI

Eu caí, meu pai. E chorei
Não, a queda em si
Não doeu não
As lembranças da minha infância
De quando o senhor
Não me deixava cair
É que me faz chorar

Não, eu não quero ficar
Neste lugar
Onde, quando abro a janela
Vejo só cinza. Num céu
Que era pra ser todo azul

Por isso bebo. Bebo e caio
Levanto e volto a beber

Porque este céu turvo
Só me faz lembrar
De quando eu bebia
Das águas
Do caldeirão das cabras
Debaixo de um céu
Escancaradamente azul

Não, a água
Do caldeirão das cabras
Não é potável
Mas foi lá, que a seu lado
Aprendi a nadar
E pra se aprender a nadar
Invariavelmente se bebe água

E é daí essa minha sede
Sede de voltar lá
E volto! Volto sempre
Mas no tempo errado
Quando ele está totalmente seco
Sem nada
E eu não posso nadar

Aliás, não posso
Nem molhar os pés 

 
S. Paulo, 29/11/2017
www.cordeiropoeta.net