Diário de um poema triste

Perdi a chance de ser especial caminhando com os pés de um menino azul sujando o coração.

Praça por praça. Lugar decorando a hora da chegada como presente de uma estrada que agora termina.

A flor germina, a tulipa, o tule e o tolo, sorriso de menina

procurando por um analfabeto vestido de ancião

quando todas as estrelas caem no chão morrendo

como qualquer vagalume, ou gente sem teto,

um qualquer objeto servindo de lição

de que até o verniz perde seu brilho

ou seu valor imensurável.

Havemos de morar longe para encontrar, de alguma maneira, com a saudade

que nos avassala o coração.

Havemos de ter medo

de guardar segredo como regra de não suspeitar

que o que sai pra fora desmorona ao tato dos olhos,

ou dos tímpanos e vira cacos,

cacos de sentimentos amontoados em escombros

de gente, de ruína, de gente, do que um dia fomos,

do que deixamos de ser, do que não mais seremos,

pedaços, pedaços e restos, pedaços e céleres fios

emaranhados como ninhos de beija-flor na alcova de uma árvore.

Márcio Ahimsa