AS OUTRAS FORMAS DA SAUDADE
Tem a saudade-ferrugem
que o tempo fez mudar de cor
Tem a saudade-aborto
que foi arrancada de dentro sem pedir licença
Tem a saudade-à-deriva
que fica vagando a esmo por todo canto
Tem a saudade-catarro
que a gente puxa de dentro pra por pra fora com gosto
Tem a saudade-carona
que só vai adiante se alguém levar
Tem a saudade-furacão
que vai detonando tudo por onde passa
Tem a saudade-do-Paraguai
que parece de verdade pero no mutcho
Tem a saudade-ressaca
que incomoda por um tempo só
Tem a saudade-anã
tem tudo das outras, mas em escala menor
Tem a saudade-traíra
que mostra suas verdadeiras garras quando menos se espera
Tem a saudade-rolha
que a gente coloca pra consumir depois
Tem a saudade-fé
que não dá pra explicar como é de fato
Tem a saudade-terceira idade
que tem privilégios pelo tempo de vida
Tem a saudade-remendo
que tapa buraco
Tem a saudade-câncer
que cresce desordenadamente invadindo tudo o que encontra pela frente
Tem a saudade-decreto
que é assim e ponto final
Tem a saudade-dor de barriga
Vem do nada e só alivia quando botamos tudo pra fora
Tem a saudade-corrupta
que adora um por fora
Tem a saudade-corcunda
que desenvolve anormalidade que todo mundo percebe
Tem a saudade-pedra no caminho
que só existe pra fazer a gente tropeçar
Tem a saudade-171
que é tão convincente que enrola todo mundo
Tem a saudade-rima
que sempre combina no final
Tem a saudade-andaime
que existe só pra não deixar deixar a gente se esborrachar no chão
Tem a saudade-piercing
que é moda passageira
Tem a saudade-coceira
que dá um prazer danado ficar roçando sem parar
Tem a saudade-assassina
que tem nossa vida na sua mão
Tem a saudade-aviso prévio
que é só pra comunicar que vai embora
Tem a saudade-cocaína
que faz mal mas dá um prazer danado
Tem a saudade-mambembe
que vive vagando de lugar a lugar
Tem a saudade-Alzheimer
que esquece de muita coisa
Tem a saudade-ditadora
que só vale o que ela quer, pensa e acredita
Tem a saudade-vista grossa
que prefere fingir que não está vendo
Tem a saudade-escrava
que só faz o que o dono manda
Tem a saudade-putrefação
que vai sendo consumida pelos nossos vermes pouco a pouco
Tem a saudade-bobo da corte
que parece idiota mas é mais esperta que todo Corte junta
Tem a saudade-suor
que escorre dos nossos poros sem cansar
Tem a saudade-festim
que é pura fantasia, mas que engana, engana
Tem a saudade-carrasco
que acaba com a gente e só depois tira seu capuz
Tem a saudade-câimbra
que dói tanto que a gente não consegue se mexer
Tem a saudade-coalhada
que passou do tempo e não serve mais pra nada
Tem a saudade-saudade
que vai dizer cheguei quando deveria só dizer fui.
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