Poema de infância.

Uma folha de papel

Creio eu que era de pão

Nem chegava a ser folha inteira

Acho que meia folha não era

Creio eu que era quase meia

Era infância ainda

Talvez fosse um dia de verão

Creio eu que era primavera

Só me lembro que fazia uma tarde linda

Creio eu que depois choveu

Faz muito tempo aquele dia

E, se é que choveu

A chuva foi mais linda ainda

Era um tempo de paz, talvez

Não existe certeza de mais nada

Hoje eu penso que paz nunca houve

Então eu desenhei um peixe no papel

Me deixem chamá-lo assim, de peixe

Pode ser que fosse um golfinho

Pois não caberia uma baleia

Numa folha tão pequena, diminuta

Que não chegava nem a ser meia

Daquelas que, na alegria da infância

Se cata na ventania

E guarda pra sempre na alma

Com a calma dos anos passados

Mas agora eu compreendo

Que momentos bobos assim

São os que vão ficar eternizados

Uma tarde chuvosa

Num papel amassado

O mesmo sol, que hoje arde no céu

Mas compreenda

Que há tardes em que brilha diferente

O Sol, o céu, o golfinho, a felicidade

Na verdade essas coisas existem

Muito menos neste mundo em que vivemos

E muito mais

Aqui, no coração da gente.

Edson Ricardo Paiva.