Entrelaçar
Minha bela dionísia.
Minha bela, tudo passa.
A dúvida não passa
A dor de haver nascido não passa
Mas, o resto tudo passa.
Se há sorte e destino
Tudo passa.
O riacho passa tortuoso
em direção do rio maior.
E esse procura o mar, para desabafar.
Se há males e ventura,
Se há prazeres e misérias
Sob esse límpido horizonte
No trote da carruagem de foro
Tudo passa.
Tudo passa.
A negra morte rouba-nos a esperança
Se Pandora não abrisse a caixa
Se meu coração não quedasse
diante dessas flores
de primaveras presumidas
O tempo corre sobre o corpo
entorpecido
E o cordeiro deitado levado à
sacrifício.
Não geme.
Morre cerimoniosamente.
Mesmo assim, tudo passa.
Ritos envelhecidos registrados
passam para a estória
tudo é lenda, é lindo, e fábulo.
Mesmo tudo passa.
A beleza fenece
A inteligência se apaga.
A memória falha.
Tudo passa
Menos a beleza sentida
de alma
que cabe secretamente
no entrelaçar de
dedos.