Entrelaçar

Minha bela dionísia.

Minha bela, tudo passa.

A dúvida não passa

A dor de haver nascido não passa

Mas, o resto tudo passa.

Se há sorte e destino

Tudo passa.

O riacho passa tortuoso

em direção do rio maior.

E esse procura o mar, para desabafar.

Se há males e ventura,

Se há prazeres e misérias

Sob esse límpido horizonte

No trote da carruagem de foro

Tudo passa.

Tudo passa.

A negra morte rouba-nos a esperança

Se Pandora não abrisse a caixa

Se meu coração não quedasse

diante dessas flores

de primaveras presumidas

O tempo corre sobre o corpo

entorpecido

E o cordeiro deitado levado à

sacrifício.

Não geme.

Morre cerimoniosamente.

Mesmo assim, tudo passa.

Ritos envelhecidos registrados

passam para a estória

tudo é lenda, é lindo, e fábulo.

Mesmo tudo passa.

A beleza fenece

A inteligência se apaga.

A memória falha.

Tudo passa

Menos a beleza sentida

de alma

que cabe secretamente

no entrelaçar de

dedos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/08/2007
Reeditado em 22/08/2007
Código do texto: T619362
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