DONO DOIDO

para Adélia Prado

Uma vez

Eu ainda era menino

Fez tanto sol em Itiúba

Ainda hoje faz

Que quando enfim

Formou-se uma nuvem

Meu pai, irado, saiu pro terreiro

E blasfemou:

Este ano, não chove

Não vai ter chuchú, não vai ter milho...

Sem milho, as galinhas não botam

Como é que eu faço

Angú pros meus filhos?

Inspirado me mandou "pro São Paulo

Onde chove todo dia

Formando poças no asfalto"

Agora, trinta anos depois

Sou dono de roças

Que dão chuchú, milho...

Crio muita galinha, que botam muitos ovos

Sei fazer um angú muito gostoso

Mas não como nada disso

Porque lembro do meu pai

S. Paulo, 16/08/2007

CORDEIRO de ITIÚBA
Enviado por CORDEIRO de ITIÚBA em 22/08/2007
Reeditado em 22/08/2007
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