Se eu fosse cego amava toda esta saudade!
O que será que me inquieta? Não sei!
Mas na realidade não quero sabe-lo!
No livros antigos e poeirentos não
se debitaram outrora perfis ambíguos.
Magoa-me a sensação louca deste
sobressalto do corpo à beira do precipício
ferindo-se de impotência…as feridas
das minhas asas cicatrizaram…
dói-me… e a distante lembrança
cai-me pés em forma de saudade!
Magoa-me a saudade? Não! Não sinto saudade!
Ela sempre me habitou da mesma forma
que o sal ocupa trono no mar…
Sinto-a como um sopro perfumado de primavera
nas pupilas cansadas e desatentas.
Eu sei…sinto! Que faremos parte da mesma sombra
na noite em que Lua for mais redonda
que a virtude e felicidade da tua iris!
Dizem os demónios que me assolam nessa inquietude
que te transformaste numa linda flor campestre
Ahh..então serei água…seiva …uma gota qualquer
para te abraçar na possibilidade de seres raiz exposta!
Se eu fosse cego amava toda esta saudade!
O que será que me inquieta? Eu sei que sei!
Saudade…Não é por ti
que dormes em meus braços que sinto amor.
Eu amo aquela flor que nasceu sem vida!
Amo-a! E irei fantasia-la viva na minha carne...
Tu! Minha flor… meu amor…
Que nome te deram esses demónios?
Eu amo aquela mão branca que me acariciava
Na partida para mares longíssimos.
Eu amo aquele sorriso com jeito de luz do fim-do-dia..
Eu amo a noite…a inquietude
Amo a silhueta que vive em meus sonhos.
Eu amo a lua que cego eu nunca vi.
Se eu fosse cego amava toda esta saudade!
Magoa-me a sensação louca de saber que estou enlouquecendo!
O silêncio nos une…naquela sombra que falei
onde o próprio silêncio é figura nua ..
É ela! É ela que se penteia na sombra da folhagem.
Humm…ao longe sinto o odor do centro da frescura!
Ah as linhas calmas do sopro perfumado!
Ventania que arrepia os pelos do umbigo
Como se fosse aqui o precipício!! Ahh..estarei louco!
Ficarei imóvel sentido o seu hálito é o tempo perdido
que em espiral circula no meu corpo que morria de saudade.
Ela concede-me o privilégio de viver apenar por existir…
Rasgo definitivamente esta inquietude numa embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância que separa a vida da morte…
É um sopro indivisível...juntos naquela sombra!