Monóculo

Belém, 16 de novembro de 2017.

Quando eu te olhava de um olho só

O Sol das nove era morno e sadio

Quando eu te via de um olho só

Tu tinhas bala e esta palavra era doce

Quando se admirava de um olho só

Prestava-se atenção na beleza

Quando se amava com um olho só

A luz cobria quem se amava e sua aura era plena

Quando eu curioso de um olho só

De qual tribo tu eras vestida de índia?

No tempo em que eu via com um olho só

O Natal era pobre mas de gente abraçada

Na vez que eu olhei uma foto de um olho só

O Isabelense quase foi campeão paraense

Quando eu ri da foto tão pequenina

Meu avô tinha calça na altura do umbigo

Quando eu me vi na foto com um olho só

Tava sorrindo desdentado na árvore

Quando a claridade me permitiu ver o que havia

Um barco parecia lá no fundo em forma de nuvem

Quando o retratinho achou os amigos

A praia era mais praia do que casas

Foi no tempo de um olho a ver fotos

Que a imagem viu a imagem na parede, um casamento a imagem

Hoje tudo mais fácil e efêmero

Passam meus dedos rápidos pelas fotos nunca mais retratos

Acelerados, pouca concentração

Quando eu via retratos de um olho só, não

Tudo era autenticamente natural

Até a minha admiração

Já ia esquecendo de que era uma vez

Artistas dos pequenos retratos

E quando quebrou meu monóculo

O último

Meu Deus, pela primeira vez eu reclamei da saudade