Aquela lojinha de doces e balas

No comecinho da noite,

Comprávamos doces e balas,

No véu da infância,

Via o mundo pelo chão de pedras,

Via as mãos adultas

sujas de cédulas,

e o brilho das moedas,

Via o mundo como o João via o gigante,

Adormecido e grande, babando pela boca,

Monstruoso, em seu tamanho,

E eu o escalava, me perguntando,

Quando é que eu vou ser um gigante??

Quando é que eu vou estar na mesma altura que o mundo??

Quando é que eu vou deixar a infância?

Quando é que eu vou ser um adulto?

Minha mãe, como a própria vida,

Segurava a minha mão com o seu calor,

Me levava pelas ruas, e eu já cansado,

Fraqueza e rubor, era o que sentia,

Queria minha casa, o meu quarto, o meu espaço,

Eu via os olhos dos outros, e deles desconfiava,

Dos seus brilhos, dos seus sorrisos enrugados,

Dos seus mistérios, dos pensamentos que entre-olhavam,

Do meu olhar, por onde eu passava,

Era como um ritual,

Naquela lojinha velha e escondida,

Naquela rua em que vivi parte da minha infância, agora, perdida,

Comprava balinhas e doces

de marcas pequenas,

Sabores, desenhos,

Tudo bem simples,

A lojinha mudou,

Não mais vende doces,

As ruas também mudam de humores,

O que nunca muda são as nossas lembranças

que carregamos, embaladas, sortidas, alimentando o sentimento,

aquela alegria de viver...