SONHEI
SONHEI
Sonhei que estavas por vir,
por isso lavei lençol,
limpei a casa de panos
e de aspirador de pó;
criei expectativa
de afagos e também
de conversas criativas
e coisas que vão além;
os broches da penteadeira,
pus embaixo, na gaveta;
a cadeira que balança,
renovei com tinta preta;
preparei café bem quente
e tem mais na cafeteira;
caso viesse mais gente,
não me achasse de bobeira;
as fronhas também troquei
pra que caso adormeças,
seja limpo e perfumado
o pousar da tua cabeça.
Enfeitei o corredor
de cravinas e pus rede;
e repus nosso retrato
pendurado na parede
e me preparei tão sério,
e me preparei tão tenso,
que logo pus-me a queimar
aquele festival de incenso.
Porém horas se passaram,
era manco o meu caminhar;
pé a pé, de lado a lado,
não saía do lugar:
e corria até a porta,
socorria o catavento,
dava jeito nas campânulas,
permanecia atento,
mas nem de longe rangia
uma carroça sequer;
seu passos, não os ouvia
meu ouvido de mulher;
e fui aos poucos cedendo
à luz que vem da janela,
o meu corpo estremecendo,
e o cérebro (sentinela)
foi aos poucos despertando
(estava em sonho; perdido),
revivendo o tal detalhe
pelo sono suprimido:
Tinhas partido de mim
sem deixar rastro nem jeito;
acordei desacordada
de dor que não sai do peito.