A PAISAGEM QUE A JANELA LHE TRÁS

Eu sou a escolha mais certa que você fez quando estava errada

Eu nasci do teu medo de nunca saber e ainda assim insistir

Eu soube esperar quando você só queria fugir

Eu soube entender aquela lagrima

Eu soube desculpar aquela magoa

Eu soube sorrir quando calou

Eu soube ir onde você nunca foi

Eu soube voltar sem perder muito de mim

Não é pra entender que eu agora grito assim

Não é uma busca que leva agora do inicio ao fim

É só outra história

Outra andrajosa e sofrida memória

Outra manhã entre náuseas e vômitos

Outra pessoa desperta a teu lado

E eu estou lá fora em algum lugar tão cansado

Dizendo a todos que você não pode ter esquecido

Repetindo o tempo todo que não é um fim

Eu soube contar as coisas sinceras

Eu soube guardar os segredos terríveis

E eu acordei depois de noites incríveis

Em velhas praias onde o mar sussurrava

E marinheiros deixaram suas lendas

E eu estava la pra ver o que vinha

E eu estava la por que lá um dia você existia

E quando parti eu parti outra vez só

Ouvindo no vento canções moribundas

Sentindo na carne dores difusas

A esperança não vale a pena quando dói?

E a certeza não é cruel e ingrata?

Um dia você vai acordar em alguma pátria distante

Em lençóis sedosos num dia invernal

La fora as folhas forrando o chão

La fora os riachos murmurando contentes

La fora alguma língua envolvente

E eu sei ...eu sei você vai estar feliz...

A visão que a janela te trás nem de longe vai te lembrar de mim

A paisagem na montanha vai te convidar

E tudo vai parecer perfeito sem retrocessos sem lugar pra voltar

Mas então vai olhar para o lado

Vai notar o espaço na cama

Vai perceber só uma xícara na mesa

Vai ouvir o silêncio da casa

E então vai saber quando quase já não vale mais a pena saber

Podia ter sido eu...

Podia ter sido eu com você...