Aquela noite...
Eu cheguei à cidade, naquele meu interior, de paz, de amor!
Depois de uma década... Lá estava eu! Gélido, ansioso...
Ninguém me reconheceu e eu sorrateiramente me acomodei,
Entrei num barzinho simples, chão batido, tudo perfeito!
Não era do meu costume, nunca ia a lugares assim...
Mas fiquei ali a observar a vida passar por mim, à noitinha...
E as pessoas a passar pela mesma vida, por mim, por nós!
Até que uma moça, muito linda, me viu ali, solitário, a pensar!
Era a garçonete! Anete, que antes fora apenas Neti...
Minha grande amiga de outrora, desconhecida agora!
Aproximou-se e perguntou: Deseja algo, senhor?
Sim, eu disse, traga me uma champagne... Como se eu bebesse!
Ela trouxe uma taça linda! E a bebida mergulhada em gelo...
Nada mais disse, nada mais perguntou... E devagarinho se foi.
Fiquei ali por horas... Não abri a garrafa... Nada fiz!
Apenas olhava o tempo, as modificações e todas as pessoas!
Deus, perguntava a mim mesmo, quem é esse estranho povo?
Onde está Rosinha, Sônia, Verônica, Elza e Marinalva?!
Meus amigos, Edivar, Francivaldo, Francílio e Arimatéa?!
Anete viu que nem abri a champagne e lentamente foi à mesa,
Pensei, ela vai me reconhecer... Ela nada disse e abriu a garrafa!
Olhou-me profundamente nos meus olhos e disse: Me desculpe!
Esboçou um sorriso e se foi... Depois de despejar a bebida na taça!
Continuei ali em minha solitária procura de alguém... Mas, quem?
Já nem sabia quem poderia encontrar, mas, disposto, esperaria!
Vi Ritinha passar, lembrei o pé de taturubá em que subíamos...
Passou lentamente a me olhar a Ana Maria, era a menina mais
Linda da escola, uma miss! Mas elas não me reconheceram...
Logo passou o Antonio José, Josué, José Maria, Neto, Creginaldo,
Até o meu amigo Vavá e o Zé da tia Pássa... Fiquei pasmo!
Mas nada disse... Apenas me escorreu daí algumas lágrimas...
O champagne esquentou, a noite esfriou e Anete chegou: Senhor,
Senhor, já passa das duas horas da madrugada e estamos fechando...
Desculpe, o senhor nem mesmo tomou o seu champagne!
Sim, eu não havia tomado... Não tive tempo! Paguei e fui embora!
Poeta Camilo Martins
Aqui, hoje, 13.11.2016
22h38min [Noite]
Estilo: Livre