EU NEM SEI SE ELA SORRIU
Eu nem sei se ela sorriu
Mas já era manhã e eu devia partir...
E fui...
Andei sossegado por caminhos tão antigos que as pedras tinham todas suas próprias histórias pra compartilhar entre si no velho pavimento da estrada
Eu fui...
Ramagens de ver de intenso me cercavam
Mil olhos ali,nenhum deles cego
Tantas vozes vindas da floresta...
Terei ouvido um canto?
Fadas cantam quando o dia nasce?
Não sei!
Eu deixei pra trás alguns sonhos pois sonhos as vezes são pesados demais pra se levar...
Eu levei comigo algumas dores por que a dor não pode ser deixada assim pra ninguém
Houve uma despedida curta no quintal
Nas estacas do cercado as trepadeiras incansavelmente tomavam de assalto um espaço antes não seu
Algum inseto zumbia nas flores...
Orvalho gotejando das frutas sem nome na arvore sem grife do jardim
Tudo isto entre nós ,sobre nós,ao nosso redor...
E estávamos ali só despedidas presos em um olhar mutuo
Eu senti na garganta as frases certas que eu queria dizer pra tornar este momento mais memorável
Mais solene...
Mas não pude dizer...
Em algum lugar no fim da rua o cão deste dia latia seu protesto contra quaisquer que sejam as coisas contra as quais cães protestam...
Um vizinho matutino passou apressado em direção a seu dia
E eu não pude falar preso aos olhos sinceros dela
Eu não colhi nenhuma flor no que seria um ato quixotesco de despedida
Não me prostrei de joelhos em lagrimas convulsivas
Eu sorri...
Um tolo sorriso solto no mundo sem qualquer controle da minha natureza
E ela fitou-me entre intrigada e incrédula diante desta cena tão inesperada
Tomei-a nos braços sem palavras ou aviso e uni nossos lábios num laço tão doce quanto familiar
Um gesto rápido...
Quando me desprendi dela sai sem palavras pela rua
Para o mundo...para a vida que me esperava
Não sei ao certo se minha mensagem foi recebida
Não sei ao certo se ela compreendeu o meu legado
Deixei com ela meu sorriso e meu amor
Parti...
E eu nem sei se ela sorriu...
Não olhei pra trás.