Ícaros sem asas
Passeando no céu
Sem sonhos
Só me acompanha as nuvens brancas, cinzas e
Douradas de sol
Os últimos raios de sol
Gemem pelo entardecer
E anunciam languidamente
a noite
Depois discretamente aparecem
as estrelas
O mapa de estrelas desenha
o centauro, o escorpião
As três marias
O cruzeiro do sul
Que me parece mais ao sul
Da alma gélida pela
Despressurização
Ao fundo anunciam
Numa voz confortável
A quantos pés de altitude
a velocidade e
previsão de chegada
pela minúscula janela
Cabia o mundo todo
Apertado entre nuvens e horizonte
Turbulência
Tremores
Sacudidas na aeronave
Rostos empalidecem
Sorrisos amarelos
E as nuvens mais belas
do mundo lá fora
a se despedir do dia
do destino
a imaginação esculpe as nuvens
forma anjos, ovelhas
e leões
um certo tom lilás
tinge levemente a asa do avião
que rasga ao meio o entardecer
e, sem qualquer culpa aterrisa
afinal.
Ícaros livres disputam a porta
Pegam as malas, maletas
e pertences
Ícaros sem asas,
Ícaros sem dédalo
Somos passageiros do nosso medo
da ansiedade
de nossa história
de nossos sentimentos
E o desembarque
É sempre num lugar
nunca antes vivido.
É um lugar inusitado
Apesar de ser aonde se quer
chegar.