Carnaval um ébrio
Eu nunca mais deveria olhar para trás,
desejar que o passado fosse algo tangível,
esperar o impossível de se realizar,
guardando no peito essa incomensurável dor,
esse amor que reluz a espada cravada em seu coração,
entoando palavras de um bêbado solitário na madrugada,
quando meu olhar ébrio me traz memórias tão vivas,
que me dificultam o digitar de palavras que saem atordoadas,
corrigidas à todo instante como passos vacilantes sobre gelo fino,
imaginando onde estarás nessa segunda-feira de carnaval,
se deixarás ao menos um minuto para pensar em mim,
se já serei uma carta fora de seu baralho de jogos perdidos,
se representarei apenas um esquecimento incômodo,
aquela luz de sol que teima entrar pela fresta da persiana,
aquele pingo de lucidez que insiste em se manter no álcool,
aquela melodia que não pára de tocar no rádio de seu carro,
e tudo o que represento vira pouco mais do que um grão de areia,
enquanto quebro em mil pedaços todas as noites sem notícias suas,
ampliando cada tom de minha escuridão profunda,
me perdendo nos redemoinhos de minha vida confusa,
sentindo a mente deixando o intelecto para voar por outros planos,
talvez buscando morada na saudade que abriga você em mim,
talvez pedindo socorro ao destino que parece brincar comigo,
talvez querendo não mais acordar desse coma alcoólico,
quando você é a única coisa que me importa nessa vida,
é a única razão para que eu não desapareça entre os dias,
clamo por um milagre, uma voz, uma palavra, um retorno,
mas só tenho o silêncio e a ausência como respostas...