Três tempos
Tempos bons aqueles da adolescência,
quando subir a serra de bicicleta era tudo o que importava,
bater corrida com primos e amigos em troca de glória,
sentindo o vento cortando o rosto e o coração explodindo,
era tudo o que eu era, um explorador, um corredor,
voando sobre rodas, fazendo meu destino,
vivendo a liberdade que a vida me dava...
Tempos estranhos estes da fase adulta,
quando bater ponto no trabalho é tudo o que não importa,
olhar pela janela do escritório em troca de um pouco de paz,
sentindo a gravata apertar o pescoço e a perna ficar dormente,
é tudo o que consigo ser agora, um operário, um prisioneiro,
sufocando sobre papéis e burocracias, perdendo meu destino,
sobrevivendo no cárcere que a vida me trouxe...
Tempos incógnitos serão os da minha velhice,
quando medir pressão e diabetes será o que importará,
ver meus cabelos brancos no reflexo do espelho com lágrimas,
sentindo o peso da idade sobre minhas costas tristes,
será tudo o que conseguirei ser amanhã, um hermitão, um esquecido,
rememorando tempos que jamais voltarão à sorrir pra mim,
esperando quando a morte virá me buscar com sua foice...