Como esquecer você?
Você tem meus olhos
Tem o meu olhar.

Como esquecer você?
Você tem meu infinito
Você guardou meus 
melhores anos

O sorriso de juventude,
as saias longas e
as sandálias de andarilha

Procurei copiosamente
esquecer,
arquivar,
desintegrar.

Mas a presença era espessa.
Sombras.
Nódoas.
Ranços.

Tatuagem de vento
Marcas invisíveis
Símbolos e enigma.

A palavra e o silêncio
em simbiose perfeita
Faziam rir-me 
de toda a distância
De toda amnésia.
Da falta de sentido
dolorido
e inepto.

Cancelei o sofrimento.
Apaguei todas as reticências.
Procurei em vão
Um bilhete.
Uma despedida.
Uma pista

A me indicar 
razões ou desrazões.

As discrepâncias
Estavam impressas
no monograma 
que você esqueceu.

Primeira letra.
Primeira ignorância.
Primeira hipótese.

Nunca chegarei ao fim
da dialética.
Atravessou-se um diâmetro inteiro.
E um raio de Iansã
Num risco vermelho
fez-me entender a tempestade.


Fez-me sorver as gotas
de lágrimas e chuvas.
Os atabaques ao longe
abrigavam o ritmo
de gemidos e tristezas.

Esqueci.
Perdoei.
Abortei.
A vida de sentir e interagir.

Sou expectadora
do ensaio de emoções
apagadas.

Não sobrou nada.
Nem ternura.
Nem lembrança.
Nem o antídoto para a mágoa.

Todas as perguntas 
foram respondidas pela
indiferença.

 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/01/2017
Reeditado em 07/08/2017
Código do texto: T5869465
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