SAUDADE CHAMADA MÃE
Que vão é esse?
Entra na goela
percorre minhas veias
e desagua no meu peito.
É o grito silencioso
que trava a garganta
e agita os olhos.
Partiste? Sim.
Mas parece que
ta aqui, espalhando
em cada canto
o nome Mamãe.
Partiste mesmo? Não.
Sua carne perambula
pelo cômodo no relógio.
Ainda sinto a presença
tão firme de sua figura
como um retrato que se deixa
sobre a mesa do escritório.
Ninguém mais olha,
mas sempre está ali.
Eu sinto que está e olho firme
com olhos fechados de saudade.
Chove muito agora e
Nenhum vento nem água
leva a solidez que deixaste
nem seca as águas que ficaram
com tua partida.
Águas do meu sangue.
Suor dos meus olhos.
Não ouço mais a suspiração
do abraço nem o soar da barriga
quando eu me deitava sobre vós.
Vós que, sendo uma, foste tantas
E agora não passas de
carne fria e punhados de
lembranças, que com a firmeza
com que seguro
se desvanecerão
com a certeza do
passar do tempo.
É fria como essa noite
que esvazia minha vista
recolhendo o orvalho
das 4 horas da madrugada,
cujo negror noturno
jamais verá o sol
iluminando no horizonte
do meu corpo
novamente.