POETA E VAGABUNDO
Quando nasce o amor, poeta?
No abraço sem jeito no meio da tarde ou no beijo roubado com gosto de doce?
Fosse o sorriso escancarado que já te penetra ou cheiro acanhado perto do pescoço.
Quando nasce a paixão, vagabundo?
No carinho ousado que nem se disfarça, entrega, envolve, aquece, abraça...
Numa peça de roupa que desliza um bocado, molhado o toque, transborda a taça
Na atitude safada que encontra resposta nos poros aguçados, ardendo em brasa
O sabor da tua pele, o cheiro da tua boca, meu nome na tua voz e o que diz quando louca...
Só sabe amor quando ama, poeta...
... invade, assola, completa. Nada mais pensa, tudo se afeta. E chora de bobo olhando retrato, no quarto, na noite, sem sono e sem trato, largado no rosto que soa tão meu na lembrança de horas intensas e medo e vontade e entrega e desejo.
Te fui tão pouco. Me deu teu tudo. Lamento rouco. Poeta e vagabundo.
E longe, amor se vai...
... e em qualquer meio do dia, uma lágrima foge pelo canto do rosto. O gosto salgado, tremula a lembrança, molhada imagem ressurge de uma dor tão profunda de choro doído, o embargo na voz, lamento sem palavra e assim, tão feroz entende de verdade o que significa saudade.
O sono foge. Perguntas sem resposta. Pensa meu rosto quando aperta o travesseiro? Ainda me chama, me lembra, me gosta? Sente meu cheiro de moleque faceiro? Suspira meu eu com qualquer emoção? Ainda sou importante na tua vida? Tenho, mesmo que um cantinho no teu coração?
Me refaz, amor
Me devolve o mundo
Me toma pra ser teu
Poeta e vagabundo