céu de chumbo
céu de chumbo
nuvens cinzas porosas
caem gotejando sobre o dia
céu de chumbo
vento frio
a cotovia tímida
pia quase sozinha
céu de chumbo
pesado, aos poucos
escurecendo
mostra outra luz
mostra faces, facetas
arestas de um cubo imaginário
o azul antes poético
é hoje gris
o sol antes rainha
de quinta grandeza
cede a vez para a luz
apagada e amarelada
da lua
poucas estrelas há no firmamento
poucos pássaros voam
e as nuvens se disfarçam
amores corrompem o tempo
braços se entrelaçam
corpos se aquecem
sem incendiam
acendem o desejo morno
e quieto
um gesto de adeus
um lenço bordado
uma taça de vinho
um frio percorrendo a sala
e lembranças chovendo por
fora de mim.
fecho janelas
tranco portas
lacro corações
calo vozes da consciência
e nesse enorme dia nublado
a ausência do entardecer
deixa uma tristeza sem fim
tudo é singular no plural.
tanto cinza e nenhum vermelho
tanto azul apagado, acinzentado
me lembra
phênix a renascer a poesia
secreta em nós.
tudo é peculiar no banal
o céu anuncia o inverno que
se revela em nós.