Sobrado de sobras

Quando tinha onze anos

Sabia que tinha dez dedos na mão

E havia um ano a mais... sobrando

Depois pensei que quando tivesse

Vinte um anos...

Além dos dez dedos dos pés,

somados os da mão

Haveria mais outro ano a mais

Sobrando

Me perguntava se sobraria de

minha infância os farelos

do bolo gostoso...

As migalhas que atirava aos pássaros

Pela janela do sobrado...

Será o sobrado,

sobra??

Será esse quarto, o que sobrou

de um casarão?

Depois, bem depois...

Quando fui correndo

ajudar meu pai

Tive um estalo. Desses que assustam a gente.

A vida é a sobra de tudo

Que fomos construindo

É o resumo.

Coloquei a boneca no armário

E fui brincar de ser adulto e

Ajudar o pai na loja.

No fim do dia, sobrava mais espaço

Dentro do sobrado.

Êta... redundância.

O sobrado abrigou a minha vida inteira.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/07/2007
Código do texto: T583512
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