Sobrado de sobras
Quando tinha onze anos
Sabia que tinha dez dedos na mão
E havia um ano a mais... sobrando
Depois pensei que quando tivesse
Vinte um anos...
Além dos dez dedos dos pés,
somados os da mão
Haveria mais outro ano a mais
Sobrando
Me perguntava se sobraria de
minha infância os farelos
do bolo gostoso...
As migalhas que atirava aos pássaros
Pela janela do sobrado...
Será o sobrado,
sobra??
Será esse quarto, o que sobrou
de um casarão?
Depois, bem depois...
Quando fui correndo
ajudar meu pai
Tive um estalo. Desses que assustam a gente.
A vida é a sobra de tudo
Que fomos construindo
É o resumo.
Coloquei a boneca no armário
E fui brincar de ser adulto e
Ajudar o pai na loja.
No fim do dia, sobrava mais espaço
Dentro do sobrado.
Êta... redundância.
O sobrado abrigou a minha vida inteira.