Ontem choveu
Ontem choveu muito... muito... ontem
E choveu, como em todo novembro
Choveu mais que chuva, desde antes de ontem
E vai chover a saudade além de dezembro...
Uma chuva que aos dois mundos prenunciava,
E que do céu, um arauto já anunciava
A chegada, já muito esperada de um anjo da guarda
Que São Pedro, reverenciando, seu xará esperava.
Daí, tanta chuva, pra no céu poder lavar
Os salões celestes, majestosos, pra afestança
Que esperava receber alegre, num valsar
Esse anjo de amor, de esperança...em aliança
Não esperavam, contudo, que ele, sempre pontual,
Chegaria adiantado... sempre preocupado,
Para não deixar em espera o público local
Estacionara em vaga comum, lugar desocupado.
Somente a chuva, sem mente...
Somente, a vida, semente...
Somente a morte, demente...
Somente na mente da gente
E foi sem aviso, e chegou, de repente
Contundente, gentilmente... Visionário, revolucionário
e como sempre, em sua vida, novamente presente
Buscou encontrar afazeres e achou um trabalho
Reformar o céu, missão: revogando as patentes,
Destituindo dos anjos e santos as inúteis vaidades
Dos Arcanjos os poderes, os dons dos videntes
Das naturezas supremas de todas as potestades
Ontem choveu forte, no Céu e na Terra
Choveu forte, como em todo novembro
Vai chover em vida, a que encerra, enterra em terra
Nesta Terra, a vida que choverá além-dezembro.
(em 22 de novembro de 2016)