COPLAS DE ESPERANÇA PRA ALENTAR UM ANDEJO
Sei que um campeiro aguenta
os sofrenaços da vida
mas não há maior tristeza
que o momento da partida,
quando a emoção nos invade
e as lágrimas da saudade
emolduram a despedida.
Parece que não faz tempo
que deixei esta saudade
se aquerenciar em mim;
ou talvez não seja o tempo
que meça uma saudade,
mas sim a intensidade
do apego que se tem,
do carinho, do amor,
da amizade, do valor
que se dá a algo ou alguém.
Esta é a sina dos que sofrem
quando deixam sua terra,
o coração entra em guerra
pelo destino traçado
e na mágoa estribado
segue um caminho obscuro
tendo os olhos no futuro
mas enxergando o passado.
A gente sempre retorna
pra onde o coração
não se atreveu a sair.
Vai-se o corpo contrariado
pela avidez do destino,
mas o pensamento fica
se negando a seguir:
A gente sempre retorna
pra onde o coração
não se atreveu a sair.
É igual uma Curucaca
que solta um grito faceiro
ao avistar o pinheiro
no momento de chegar,
sabe que pode pousar
em qualquer um deste pago,
mas pra aquele tem afago
pois aquele é o seu lugar.
A gente sempre retorna
pra onde o coração
não se atreveu a sair.
Pra onde a nossa infância
forjou o nosso caráter,
onde a lembrança dos nossos
ainda se faz tão presente
mesmo em recordação.
A gente sempre retorna
pra onde fica o coração.
É qual o pinheiro grande
que por mais enraizado
rende-se um dia ao machado
que dá fim a sua existência.
Parece perder sua essência,
num fogão queima, se espaça,
mas em forma de fumaça
ruma pra sua querência.
Este é o destino do andejo
que busca se encontrar,
fica na angústia a campear
motivos pra remembrança,
o pensamento se lança
e pra enfrentar a realidade
se estriba na saudade,
pois saudade é esperança.
A gente sempre retorna
pra onde o coração
não se atreveu a sair.
Vai-se o corpo contrariado
pela avidez do destino
a campear outros caminhos,
mas o pensamento fica
se negando a seguir.
A gente sempre retorna
pra onde o coração
não se atreveu a sair.