NO DIA EM QUE EU 'ESQUENTÁ'

No dia em que eu 'esquentá'

Voltarei à época da lamparina

Urina de tacaca será a gasolina

Botarei caçuá em bode

Nas galinhas 'mamãe sacode'

Farei jumento virar 'generá'.

No dia em que 'esquentá'

Darei nó na curva do vento

Na fazenda Firmamento,

Terei um safra de algodão

Irei pegar o trem na estação

Tocarei sanfona igual a Tatá.

No dia em que eu 'esquentá'

Tomarei leite de aveloz

Ouvirei o eco da minha voz

Comerei farinha com espinho

Dançarei no cabaré de 'Mané Toicinho'

Farei cobra ter medo de preá.

No dia em que eu 'esquentá'

Colocarei um porco na capinadeira

De pneu velho farei baladeira

Comprarei a fobica de Sérgio Câmara

Dirigirei na Rua Velha, que bacana!

Deixarei cheiroso o danado do gambá.

No dia em que eu 'esquentá'

Nota de cigarro será o dinheiro

Brincadeira de galinha de pereiro

Porteira eletrônica será o passadiço

Na seca do torrão terá alagadiço

Criarei formiga para tamanduá.

No dia em que eu 'esquentá'

Dormirei no ninho de casaca de couro

Farei cal virar ouro

Na feira de Córregos comprarei gibão

Nas novenas soltarei foguetão

Rádio ABC tocando 'Maricota venha cá'.

No dia em que eu 'esquentá'

O primário será no Abel Furtado

O fardamento velho desbotado

O curso ginasial será no Ginásio Paulo VI

Estudarei amarrado pelo cabresto

Velhos tempos eu quero 'voltá'.

Marcos Calaça
Enviado por Marcos Calaça em 10/11/2016
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