NO DIA EM QUE EU 'ESQUENTÁ'
No dia em que eu 'esquentá'
Voltarei à época da lamparina
Urina de tacaca será a gasolina
Botarei caçuá em bode
Nas galinhas 'mamãe sacode'
Farei jumento virar 'generá'.
No dia em que 'esquentá'
Darei nó na curva do vento
Na fazenda Firmamento,
Terei um safra de algodão
Irei pegar o trem na estação
Tocarei sanfona igual a Tatá.
No dia em que eu 'esquentá'
Tomarei leite de aveloz
Ouvirei o eco da minha voz
Comerei farinha com espinho
Dançarei no cabaré de 'Mané Toicinho'
Farei cobra ter medo de preá.
No dia em que eu 'esquentá'
Colocarei um porco na capinadeira
De pneu velho farei baladeira
Comprarei a fobica de Sérgio Câmara
Dirigirei na Rua Velha, que bacana!
Deixarei cheiroso o danado do gambá.
No dia em que eu 'esquentá'
Nota de cigarro será o dinheiro
Brincadeira de galinha de pereiro
Porteira eletrônica será o passadiço
Na seca do torrão terá alagadiço
Criarei formiga para tamanduá.
No dia em que eu 'esquentá'
Dormirei no ninho de casaca de couro
Farei cal virar ouro
Na feira de Córregos comprarei gibão
Nas novenas soltarei foguetão
Rádio ABC tocando 'Maricota venha cá'.
No dia em que eu 'esquentá'
O primário será no Abel Furtado
O fardamento velho desbotado
O curso ginasial será no Ginásio Paulo VI
Estudarei amarrado pelo cabresto
Velhos tempos eu quero 'voltá'.