Meu pai que me deixou... meu pai sonhador!
Maldito sonho de sonhador
Maldito homem que me deixou
Maldita seca que me afastou
Do homem que me guardou
Da seca me privou
Da fome me poupou
Da sede me isolou
Na solidão me abraçou
Sonhador valente
Que embora foi sem me avisar
E que longe mandava noticias
De quando iria voltar
Sonhador de palavra
Nunca duvidei de suas mentiras
Nunca me vi tão sozinha
Nas histórias que me falava
Sonhador de bom coração
Que cuidou de mim e de meus irmãos
Que cuidou quando longe estava
Que cuidou quando não enxergava
Cego de raiva ele escrevia
Chorosa de alegria eu lia
Lia que lá estava tudo certo
Para o dia em que voltaria
Quando eu ouvi a chuva, rezei
Quando ele ouviu a chuva, chorou
Quando pensamos na saudade, olhamos pra cima
Para lembrar da canção que me ensinou
Que dizia que a seca afastava
E que a chuva juntava
Quem tinha no coração o amor verdadeiro
Quem no peito só tinha respeito
E na estrada ele rezou
Para que tão logo chegasse
O dia que tanto esperou
De ver seus filhos e seu amor
E eu, sozinha, esperei
O homem que tanto amei
Que de pai aprendi a chamar
E como pai, nunca outro irei amar
E ali estava ele, dizendo “olá”
Corri. Fui a primeira em seus braços chegar
Perguntei por que a demora tanto de me encontrar
Ele disse “eu trouxe a chuva pra você brincar”