INSOLÊNCIA
Mudam-se as estações.
Ao sabor do clima,
Ora me agasalho,
Oro me despojo do fardo das lãs.
Alinho-me e me desalinho.
As vestes são meros detalhes sazonais.
Não o é um dado sentimento
Que fustiga e perdura.
Caminho no vago vácuo, anônimo.
A cada passo a vida passa.
E, sigo do lado de cá da via
Na calçada de meus dias,
"Vitrineando" novos lançamentos
Em busca de outros padrões,
De vivas cores, de espairecimentos.
No entanto, o exercício é vão.
A meio tom e ao centro do peito
Há o coração que late, bate forte.
Ventrículos, artérias, diafragma ...
Tudo mede a tensão que vai alta.
Olho discreto mas molesto
E diviso à calçada oposta,
Sempre ao alcance e à média altura,
O sincrônico compasso de quem intimida.
Já é primavera? É verão?
E seja outono ou seja inverno,
Passam-se os anos.
Mas, a companhia é irremovível e lá está,
Ela, a desditosa saudade.