O papel e o laço

Naquela tarde fria,
Bem escondida atrás de um muro,
Fiquei esperando
Que chegasse a seu destino,
Meu bem mais valioso...
Era sim, algo mui precioso, 
Mas fora num simples papel de pão 
Que, cuidadosamente,
Meu tesouro fora envolto...
Olhando-o, 
Parecia mesmo um reles pacote,
Mas chamava atenção
O embrulhado simples,
Decorado com um singelo laçarote...
Com uma lágrima no olhar
Notei que,
Ao receberes meu modesto presente,
Nem demonstrastes interesse,
Em saber quem era
A misteriosa remetente...
Afobado
E sem a menor cautela ou cuidado,
Fostes logo rasgando o papel
E transformando o que era
Um laço perfeito e delicado,
Em um nó feio, trabalhoso e complicado...
Tentou, tentou...
Mas tua impaciência não permitiu
Levar aquele meticuloso trabalho
Até o final...
Percebendo que não conseguirias ver
Com facilidade
O que, de tão importante tinha
No estranho pacote,
Simplesmente, destes as costas
Deixando-o ali, caído no chão...
Decepcionada,
Fui até o embrulho abandonado,
Recolhi o emaranhado
Que destes no laço
E, com imensa tristeza,
Fui recolhendo o papel amassado,
Pedaço por pedaço...
Daquele dia em diante,
Nunca mais,
Nada enviei pra ti...
Passo meus dias
Colando um por um
OS pedaços do embrulho
Feito de papel de pão
Que tu jogastes fora...
E em um silêncio profundo,
Sigo tentando refazer a vida
E desfazendo o nó
Em que tu embolastes
Meu coração...
Aliesh Santos
Enviado por Aliesh Santos em 15/09/2016
Reeditado em 16/09/2016
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