O Poema da Primavera

Quando eu estou triste sem ter para onde correr,

Penso em seus braços e a isso tento me ater -

Penso no abraço que sei que você ia me dar,

Penso no beijo que meu rosto está a esperar,

Penso e desejo a sua mão a segurar a minha,

Desejo e espero a sua volta para mim, querida.

Mas quando dá na cabeça do destino nos testar,

Que podemos nós fazer senão aguardar e aguardar?

Sim, nos testar, lançando suas rajadas de azar

Sobre nossa estrutura, tentando nos derrubar,

Mas minha mão pega na sua e aperta bem forte,

"Abelha, eu não solto nem que isso me leve a morte."

E quanto mais esforçados para mostrar ao destino

Que para tê-lo nós venceremos qualquer desafio,

Mais esse destino vai afrouxar as negras correntes,

Mais as adverseridades serão então anuentes.

É sempre tão gostoso quando chego e a espero

O tempo que for preciso a partir da hora zero.

Fico mais apaixonado ao cuidarmos dos gatinhos,

Notou como Lifs e Lufs já estão crescidinhos?

Aí de repente chega uma pergunta sem resposta,

E nós nos divertimos nessa Grande de Lama Poça,

Com carinho eu me lembro da hora de ir dormir,

Nós não vamos embora antes dum ao outro zunir.

Com o mundo tão corrido, fazendo tanta pressão

Na gente é preciso dar espaço ao coração:

Ouvir os seus gritos, combater pela sua vitória,

Porque, no final, é ele quem escreve nossa história.

O meu coração está gritando um constante rogo

Para que, de declarar-lhe poemas, eu fique rouco.

Visto tudo isso, que alternativa eu teria?

Só me resta desejar dar minha vida à mais linda.

Mas quando estou triste sem ter para onde correr,

Dói dentro de mim ter que ficar tão longe de você...

Dói porque não tenho com quem desabafar meus pesares,

Dói porque não porque não tenho onde afogar gritos covardes,

Dói porque não posso segurar sua mão e seus dedos,

Dói porque não posso lembrar que são falsos os meus medos.

E se fosse apenas isso ainda dava pra lidar,

Mas a real pior parte está em me preocupar.

Preocupar-me com você, com o que anda fazendo,

Com o que está comendo, para onde está andando,

Com quem está falando, com o que está parecendo,

Dúvidas que está tendo, cores que está pensando.

Isso é pior. Não ter ideia do seu paradeiro.

Torna-se difícil não ter pensamento agoureiro...

Como eu saberei se pisar num pedaço de vidro

O se precisar passar um dia inteiro anidro?

Mas força, porque um dia nós vamos poder voltar

À vida conjunta de chás, de conversas, de am .

Um dia juntos de novo nós poderemos fazer

Tudo o que quisermos; a risada vai nos esconder!

Você é minha melhor amiga, como já bem sabe,

Mas sempre repetirei: repetir ao poeta cabe.

Como é minha melhor amiga, tenho de dizer:

Querida, é ao seu lado que desejo envelhecer.

Ora, se ao seu lado é meu desejo envelhecer,

Cabe a mim também para você repetir e dizer:

Querida, seu garoto estará a sua espera,

Do início ao fim (e bem além) desta primavera.

(E bem além), se não sabe, quer dizer além da vida.

Estarei além da vida a sua espera, querida.

Serei seu eterno servo, seu mordomo, enfermeiro,

Seu urso pequenino e cuidadoso o tempo inteiro.

5/9/2016

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 05/09/2016
Reeditado em 07/09/2016
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