Africa amada

A todos os irmãos da minha amada terra África

Como tu.

Também eu.

Tive o verde das palmeiras.

A enfeitar a minha mocidade.

E cresci no dolente ondear.

Sereno e sensual

Dos seus movimentos.

Vi canoas serpenteando

Ligeiras graciosas garbosas

Sobre rios transbordantes.

Que apressados e agradáveis

Cheios de vida e mistério

Se dirigiam a noivar

Com o lindo mar

Que alem os esperava

Para então se amimarem

Mas que linda essa imensidão

Que à beirinha na foz

Estava toda engrinaldada

Com seus belos atavios

Feitos da espuma branca

Da pureza do anseio

Das flores de noivado

Aguardando ansiosa

O encontro enamorado.

Meus risos entoaram

Pelas serras e por montes

Por matagais e capinzais

Pela savana vastíssima

Por rios lagoas e mares

Por trilhos e direcções

Pelos atalhos do destino

Aveludados pela brisa

Que sempre os acompanhavam

O vento levava os meus ais

Meus recados e segredos

Sempre traziam o troco

Que muito me alegrava

Minha doce juventude

De alegria infinita

Pisei a terra sagrada

De nossos antecessores

Respeitei memórias de antanho

Fiz preces sobre as muralhas

De fortalezas em ruínas

Engrandeci heróis

De pelejas e batalhas

Toquei com as minhas mãos

Em sangue e lágrimas secas

Nas pedras duras dos cercos

Ali imortalizadas

Minhas mãos se cingiram

Nas argolas dos cativeiros

Beijei-as com carinho e amor

Chorei muitas vezes minha dor

Ouvindo as histórias verdadeiras

Aos antigos das senzalas

De um passado de glória e sofrimento

Velhos de olhos já esbranquiçados

Pelo muito sofrer

Apoiados a cajados

Pelo muito enfraquecer.

Cresci sob a mística

De nossos ancestrais

Tingi meu rosto de menina

Do belo carmesim

Do calor das queimadas

Nos enleios da minha juventude

Saboreei infatigavelmente

A inesgotável seiva

Que brotava da terra sagrada

Que eu amei tanto

Como tu também eu

Ouvi tambores rufando

Pelas silenciosas madrugadas

Adivinhei noites mornas

De amor e sedução

Ou tão simplesmente

Um cântico de oração

E adormeci embalada

Com os cânticos nostálgicos

Que só o nosso povo sabe traduzir

Pelas dores da saudade e amor

Que a servidão então o amordaçara

Corri a feiticeiros

Quimbandas e quejandas

Com lágrimas e desejos

Tomei mesinhas, banhei-me e falei

Para que de meu amor fosse a primeira.

Brinquei de amor

Destruí corações

Entreguei meu corpo e minha singeleza

Às águas mornas do mar

Às correntes frescas das cascatas

Às areias quentes das praias

Destrui corações

Amei, amei até me doer a vontade

E fui feliz …. Tão feliz.

E hoje o que me resta?

Apenas a saudade….dentro deste já velho coração

De pedacinhos de mim

De tetita Etelvina Costa

Julho de 2007

Tetita ou Té
Enviado por Tetita ou Té em 22/07/2007
Reeditado em 31/10/2008
Código do texto: T574998
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