Saudades de Madureira
Saudades de Madureira
Sentava-me sob as carregadas mangueiras
Nas tardes distantes de verão em Madureira
Aspirando o perfume das frutas deliciosas
Brincando inocente a vida era maravilhosa.
E o banho de chuva caindo do telhado
À noite contando estrelas no céu azulado
Vendo as velhas beatas voltando da igreja
E os bêbados no botequim bebendo cerveja
As roseiras brancas intocáveis da vizinha
E os espinhos da língua ferina que ela tinha
Contrastavam com o velho calado e sábio
Da outra casa de bigode espesso sob os lábios.
Tristes solteironas se enfeitavam na certeza
Que era preciso encontrar algo além da beleza
Para um namorado encantar e chegar à realeza
De algum lar mesmo que fosse na pobreza.
Lindas lições ainda estão na lembrança
Da distante infância tão bom ser criança
A parentada protegendo sempre por perto
Muitos se foram à vida é quase um deserto
Tinha uma prima que morava no Flamengo
E gostava de vir passar as férias no subúrbio
Na hora de voltar era um grande sofrimento
Ela sonhava no segredo do seu pensamento
A escola, os colegas, as lojas tudo ficou para trás
Às vezes bate uma saudade imensa de lá voltar
Fico quieta no canto até a vontade passar
Pois lá é terra de guerra muito longe da antiga paz.
Madureira com suas escolas de samba
Berço fértil de tantos mestres bamba
Madureira com seu burburinho frenético
Palco da vida de importantes imortais
Madureira com seu antigo/novo mercado
E hoje em dia a noite tem esquinas de pecado
Meu simples e breve, mas sincero relato
Não descrevem tudo neste pequeno retrato