Minha Doce Madalena
MINHA DOCE MADALENA
No porão da casa velha da rua de cima,
Casa velha de grandes recordações.
Ali vivia a minha primeira grande paixão.
Eu, apenas um menino, apenas treze anos...
Naqueles tempos os meninos eram mais meninos, eram todos inocentes.
Madá, negra querida,
Dizia ter nascido em mil oitocentos e noventa.
Pra mim, ela tinha mais de cem.
Tinha cara de avó, jeito de avó, contava belas histórias,
Declamava poesias como ninguém.
Minha querida Madá caiu enferma, era uma febre que não passava.
Fora às benzedeiras, até um médico foi chamado.
Mas nada dava jeito.
Ficou presa por tempos em cima duma cama.
A morte parecia anunciada, ela era dura, o corpo resistia,
Teimava em não ir embora dali.
Essa lembrança ficou.
Ficou encardida como nódoa na minha memória.
Os últimos raios de sol entravam por uma fresta,
Entre a soleira e a porta velha.
A noite veio sombria, com muito vento, o candeeiro não parava acesso,
O cheiro do querosene,
A fumaça borrava as narinas do corpo moribundo
Os lábios trêmulos balbuciando palavras quase indecifráveis.
O olhar era todo carinho, dizia frases lindas,declamava uma
Poesia que me apertava o peito e eu me punha a chorar.
Eu não entendia porque tinhas que partir.
Eu ali, também prostrado,
Presenciando o melancólico fim.
Fui levado dali, meninos não podiam ficar, chorei pra não ir.
Quando voltei ao porão ela já não estava,
Estava lá o catre,
O candeeiro,
A saudade.
A lembrança ficou encardida como nódoa na minha memória.