Se alguém encontrar meu pai por aí....
Se algum de vocês encontrar meu pai por aí, diga a ele que volte,
nem que seja encarnado em um anjo manso e silente.
Há tantas conversas que precisamos recomeçar,
tantos olhares que precisam ser repercebidos por ambos,
tanta coisa bonita para fazermos juntos.
Preciso te dar um abraço que seja muito maior
do que o maior que já te dei
naquele raro dia de felicidade,
quando nossas verdades se olharam e nos viram amigos.
Se algum de vocês encontrar meu pai por aí,
avisem-no que estou com saudade,
cheio das boas lembranças que tive a seu lado.
Mas se ninguém o achar até que termine este poema,
perdoem-me esse desabafo cheio de sombras de tristeza.
É que hoje me lembrei de sua alma repleta de bondade,
da proteção forte de suas mãos quase de aço,
e dos seus, também,quase ausentes, abraços de amor.
Este poema vai ficar!
foi tudo o que me restou fazer depois que fiquei órfão
e olhei para o céu de algum lugar distante
e não o encontrei me cobrando pelos erros cometidos.
Éramos tão felizes, e, hoje, eu tão triste,
submeto a alma à mais chorosa poesia que ousa publicitar-se,
porque, não tê-lo face a face, é ter que chorar essa saudade,
acudir-me que não mais me haverá a felicidade
que, outrora, nos ajuntou, mesmo que desabraçados.
Os dias passaram e a lembrança ficou bem guardada.
Sigo a estrada que me ensinaste e já a vejo terminar comigo,
e ainda posso te dizer, paizinho querido:
volte, se puder e, demoradamente, me beije, me ame
e me abrace apertado.