1969 - POEMA DE TODA A SAUDADE!
TADEU BAHIA - Autor
O mesmo vento frio
na praça soprando,
a mesma janela
iluminada
com a luz baça
de uma lâmpada fraca
lá na praça...
no quarto
um cheiro de virgens
e perfumes
e sombras de seios
erguendo-se... rijos
com os movimentos
dos braços... lentos
vestindo
uma camisola de dormir.
as horas? (as mesmas!)
sete horas da noite
que me flagram sentado
num banco em frente à Igreja
olhando - sonhando
aquela janela... aquele quarto;
cá fora:
as mesmas flores nas janelas
os mesmos jardins, cheios de rosas,
tal as faces delas
perfumando as varandas
por onde trôpega anda
vacilante, a minha POESIA!
a minha vontade
de desfazer saudades
no meio da praça
em plena cidade
cheia de nostalgias;
aquela casinha mansa
e branca
escondida entre jardins
e coqueiros esvoaçantes
guarda um mundo alucinante
de poesias... e delírios
sobre as colchas alvas
levantando-se
cobrindo os corpos delas
que eu pelas vidraças
das janelas
diviso, num sorriso franco
de castidade!
os olhos delas?
claros... verdes
iguais aos meus!
a pele de uma: morena
a outra: rosa
e cadê meu Deus
as palavras mais belas
para que eu lance
mais prelúdios de amor
a essas duas virgens singelas?
dormem...
vejo-lhes os perfis
dos seus corpos deitados
e dos seios entumescidos
subindo... descendo...
no movimento morno - e calmo
da respiração...
a luz do quarto
continua acesa,
uma delas
tem medo do escuro
igual a todas as virgens
na flor da idade
e eu...
e eu nesta ansiedade louca
penso seios... penso corpos...
penso sexos...
e num reflexo
baixo a cabeça a sorrir
para raciocinar melhor.
é o mesmo vento
soprando frio no jardim
uma cálida e tenra
canção de ninar
enquanto tempo
tempera as flores
e sinto cheiro de rosas
perfumando o ar
penetrando no quarto
através das réstias
das janelas
envolvendo-lhes os corpos
castos
em sonhos,
em momentos puros
e infantis!
cá fora...
a monotonia,
a cantiga doce do vento
a embalar-lhes
o sono de crianças
quando,
a lua apaga
e o quarto escurece:
VÂNIA E VERA... DORMEM!
(... versos escritos em Amélia Rodrigues - BAHIA – BRASIL, numa noite de 1969, em homenagem às adolescentes VÂNIA e VERA BACELAR.)