Pardalito Vadio

Pardalito Vadio

Pardalito vadio, pula aqui, pula ali, tresmalhado,

esvoaça num louco percurso, que só ele conhece.

Bicando, tem o seu sustento no que se lhe depara,

assustado, voa e refugia-se à beira de um telhado.

Emite breves e ritmados pios como quem agradece

favores - que sem direito - a sorte lhe negara.

Pardalito emplumado de tons matizados de castanho,

de olhar vivo, vigia, num eterno movimento circundante,

evitando perigos que se avizinham, foge frenético.

Pardalito, bonito, toma a minha alma sem tamanho,

que o teu voar não impede, e depõe-a agonizante

aos pés da minha amada, num último grito patético.

Voa pardalito, voa, procura a minha amada

e diz-lhe:- Dos despojos mortais encontrados, algo meu

lhe trazes - infima espécie do meu ser, quase nada,

pedaço perdido, insublime, sem lugar em nenhum céu

Por este favor, outro favor lhe pedirás: um naco de pão

para mitigar a tua fome, e para tua sede uma gota de água.

Se disso ela for incapaz, alimenta-te do seu doce coração

e bebe, dos seus olhos, uma dorida lágrima de mágoa.

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 15/07/2016
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