SILÊNCIO DE VIDRO
Tem silêncio pela casa
Um silêncio transparente
quase doentio...
Um rude banco de madeira
que adormece ao relento
sob um céu negro e vazio
cujos astros foram engolidos
por um único grito, sofrido, pungente,
a rasgar o giro arrastado dos relógios.
Tem silêncio pela casa
Um silêncio de vidro
estilhaços do navio de sonhos
que naufragou num mar de lágrimas
voz que desfia o rosário e, por fim, se cala...
Tem silêncio pela casa
Um silêncio de espelho
passos que se perdem, que se rompem,
que se juntam mas que têm de dizer adeus a cada noite.
Tem silêncio pela casa
um silêncio de tempo apressado
impiedoso açoite
Um silêncio branco
vela de filtro filtrando a água
Uma caneta que por ora se cala...
Tem silêncio pela casa!