Serei sempre a metade da nossa canção
Por tudo o que mais é verdade, eu me sinto a metade dessa paixão
Pelos cursos da vida, ferida que arde, eu me acho metade de um coração
Por chorar e sorrir de saudade, eu me vejo metade dessa escuridão
De saber que chora à vontade, me refaço metade nessa solidão
Por olhar e não ver minha vontade, eu me perco metade nessa imensidão
Pelas sombras gentis dessa tarde, eu só tenho metade da minha emoção
Por colher e beber crueldade, eu me encontro metade de uma fração
De sentir no peito a cavidade, eu cativo em metade da nossa prisão
Tão distante e diante claridade, recordo a metade da constelação
Me reduz, me divide à paridade, multiplica a metade dessa adição
E se rir... rir do que? Da maldade? Uma tola metade desse bobalhão
Se chorar, chora a voluptuosidade, mesmo que só metade desse chorão
E amar, amo sim de verdade, mas só resta metade dessa afeição
É por tanta indivisibilidade que em meia metade suplico perdão
Pois sem tua afinidade, serei sempre a metade da nossa canção
Que se canta num canto que invade e preenche as metades em erupção