Tudo passa tão depressa

Tudo passa tão depressa

Corpos nas calçadas

Nas faixas de pedestres

Gotas de chuva de verão

Os meses

As estações

Os anos

Tudo passa com tanta pressa

O avião cortando o céu

Levam gentes com pressa de chegar

Não sei aonde ou pra quando

Os carros avançam os sinais

Com pressa de chegar

E que às vezes nem chegam

O dia começa e já está acabando

A vida começa e já estamos morrendo

Este verso mal começou e já acabou

Tudo tão de pressa

Tudo passa

Mas quando se trata de saudade

Tudo é tão lento

A saudade é um livro enorme que parece não ter fim

É uma tartaruga com seu casco duro

Um muro difícil de derrubar

E enquanto tudo passa depressa

Eu devagar

Eu de vagar por aí nas curvas longas dessa estrada

Barrenta

Esburacada

Morosa como vento que nem faz voar penas soltas

Que nem cata vento gira

Parece que tudo está fora de mim

E lá tudo passa tão depressa

E aqui dentro tudo tão lento

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 30/06/2016
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