A FALTA AFIRMADA
Ela ainda me rouba tempo, mais tempo do que perdi antes do agora.
Ainda me rouba pensamentos, momentos, delírios, lembranças desconexas.
Às vezes me sinto num aquário, indo de encontro às paredes invisíveis da minha alma
Rondando um minúsculo castelo. Ah, meu pequeno castelo!
É como num sonho de Kafka:
De hospedaria em hospedaria, de frio em frio, nada alcanço.
A falta perpassa cada página do diário feito à mão,
Permeia cada letra da caneta de pigmento comum e barato,
Exala em cada gota de café - tantas vezes por dia.
A falta coordena uma expedição ao mundo das ideias, território onde sou servo e não senhor.
Amordaça a minha racionalidade. Amarra meus punhos fortes. Transfunde versos à força num ciclo ritual profano.
Então a falta bebe meu sangue grosso. Desidrata meu juízo
Cala minha fala